CÁLCULO DA CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES EM ESTACAS PELO SPT
Todo engenheiro civil tem uma boa noção dos princípios básicos da engenharia geotécnica, mas quando precisa de algum conceito mais elaborado… não adianta, precisaríamos consultar a literatura técnica, amigo especialista ou aquele caderno velho e incompleto das aulas de Fundações. Antes de você ligar para um colega de profissão especializado no assunto, vamos tentar te ajudar com uma revisão do assunto e com um rápido estudo de caso sem muita discussão teórica do assunto.
Pra quem é este artigo:
- Engenheiro civil que precisa de uma revisão no assunto “Cálculo de Fundação em Estacas”;
- Estudante de engenharia que precisa fazer um trabalho na faculdade sobre o tema;
- Consultor geotécnico que quer comparar seus métodos de cálculo com outras fontes.
No que ele pode te ajudar:
- Estimativa da capacidade de carga de estacas utilizando o SPT;
- Comprimento das estacas para fins de orçamento dos custos de fundações profundas;
- Quantidade preliminar de estacas por bloco de fundação.
Nota: este artigo e o material disponível para download auxilia no pré-dimensionamento. Para grandes obras e casos mais críticos (solos moles, barrancos, solos expansivos) não dispensa a experiência de um consultor geotécnico e os cálculos mais precisos de um engenheiro de fundações.
Neste artigo vai encontrar:
- Breve apresentação de dois dos métodos mais utilizados no dimensionamento de fundações com estacas: Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma
- Cálculo de um exemplo (Estudo de Caso) através de uma planilha para download
Métodos de Cálculo: Teoria na Prática
Vantagens e desvantagens dos métodos ? Sugiro calcular os dois e escolher o menor resultado, por conservadorismo.
Método de Décourt-Quaresma
Rapidamente neste método a capacidade de carga de uma estaca (Carga de Ruptura – chamaremos de “Qu”) será obtida pela simples fórmula abaixo:
- qp é a tensão de ruptura de ponta;
- Ap é a área da ponta da estaca;
- qs é o valor do atrito lateral unitário;
- As é a área lateral da estaca;
- α é um parâmetro de ajuste para estacas não cravadas;
- β é outro parâmetro de ajuste para estacas não cravadas.
O princípio é intuitivo, o solo irá atuar na lateral e na ponta da estaca para impedir que ela “afunde”. Esse limite entre a força máxima aplicada na estaca e o início do deslocamento do solo (ruptura) define a capacidade de carga da estaca.
A tensão de ruptura de ponta possui a seguinte equação:
Onde:
K é um coeficiente tabelado em função do tipo de solo;
Tipo de solo | K (KN/m2) | ||
Argila | 120 | ||
Silte argiloso | 200 | ||
Silte arenoso | 250 | ||
Areia | 400 |
- N é o Nstp, número STP ou ainda, o número de golpes necessários para equipamento da sondagem penetrar 30 cm no solo. Esse número você obtém no resultado da sondagem à percussão executada no terreno;
O atrito lateral unitário é calculado, sem dificuldades, pela fórmula:
- Parâmetos α e β são sugeridos pelas tabelas a seguir:
Parâmetro “α“ | |||
(Décourt, 1996) | Argilas | Solos intermediários | Areias |
Cravada | 1,00 | 1,00 | 1,00 |
Escavada em geral | 0,85 | 0,60 | 0,50 |
Escavada com lama bentonítica | 0,85 | 0,60 | 0,50 |
Hélice contínua | 0,30 | 0,30 | 0,30 |
Raiz | 0,85 | 0,60 | 0,50 |
Injetadas (alta pressão) | 1,00 | 1,00 | 1,00 |
Parâmetro “β“ | |||
(Décourt, 1996) | Argilas | Solos intermediários | Areias |
Cravada | 1,00 | 1,00 | 1,00 |
Escavada em geral | 0,80 | 0,65 | 0,50 |
Escavada com lama bentonítica | 0,90 | 0,75 | 0,60 |
Hélice contínua | 1,00 | 1,00 | 1,00 |
Raiz | 1,50 | 1,50 | 1,50 |
Injetadas (alta pressão) | 3,00 | 3,00 | 3,00 |
Método de Aoki-Velloso
Utilizando também o proposto por Aoki-Velloso, a capacidade de carga de uma estaca (Carga de Ruptura – “Qu”) será obtida pela soma da Carga de Ponta (“Qp”) com a Carga do Atrito Lateral (“Qa”), assim como na equação abaixo:
A carga resistida pela ponta (Qp) segue a equação abaixo:
Onde:
- K é um coeficiente tabelado em função do tipo de solo, mas possui valores diferentes do Método de Décourt-Quaresma – cuidado;
- N é o Nstp da sondagem;
- F1 é um parâmetro tabelado em função do tipo de estaca. Foi calculado pelos engenheiros pesquisadores do método através de inúmeras correlações e testes de carga durante as pesquisas realizadas;
- Ap é a área da ponta da estaca. Se for uma estaca cilíndrica maciça, por exemplo, é a velha fórmula “pi vezes o raio ao quadrado”.
A carga máxima suportada pelo atrito lateral é calculada pela fórmula a seguir:
Onde:
- Qa é o valor da carga do atrito lateral;
- ɑ também é um coeficiente que varia em função do tipo de solo;
- K e N são os mesmos da fórmula do Qp;
- F2 também é um parâmetro tabelado em função do tipo de estaca.
Tipo de solo | K (KN/m2) | α (%) |
Areia | 1.000 | 1,4% |
Areia siltosa | 800 | 2,0% |
Areia silto-argilosa | 700 | 2,4% |
Areia argilosa | 600 | 3,0% |
Areia argilo-siltosa | 500 | 2,8% |
Silte | 400 | 3,0% |
Silte arenoso | 550 | 2,2% |
Silte areno-argiloso | 450 | 2,8% |
Silte argiloso | 230 | 3,4% |
Silte argilo-arenoso | 250 | 3,0% |
Argila | 200 | 6,0% |
Argila arenosa | 350 | 2,4% |
Argila areno-siltosa | 300 | 2,8% |
Argila siltosa | 220 | 4,0% |
Argila silto-arenosa | 330 | 3,0% |
Tipo de Estaca | F1 | F2 |
Franki – fuste apiloado | 2,3 | 3,0 |
Franki – fuste vibrado | 2,3 | 3,2 |
Metálica | 1,8 | 3,5 |
Pré-moldada cravada | 2,5 | 3,5 |
Pré-moldada prensada | 1,2 | 2,3 |
Escavada pequeno diâmetro | 3,0 | 6,0 |
Escavada grande diâmetro | 3,5 | 7,0 |
Escavada com lama bentonítica | 3,5 | 4,5 |
Raiz | 2,2 | 2,4 |
Strauss | 4,2 | 3,9 |
Hélice contínua | 3,0 | 3,8 |
Exemplo Prático
Neste rápido exercício, vamos avaliar qual seria a capacidade de carga e a quantidade de estacas escavadas de 25 cm de diâmetro necessárias para suportar um pilar com 900kN.
Vamos considerar o seguinte perfil do solo e resultado da sondagem à percussão:
Faça o download da planilha no botão abaixo para acompanhar a solução deste exercício. Ela foi desenvolvida para MS Excel 2010, é totalmente aberta, editável, não possui senha nem macros.
Passo #1) Preencher a planilha com os dados iniciais:
- Tipo de estaca: Escavada pequeno diâmetro
- Diâmetro: 25 cm
- Fck do concreto: adotarei 15 Mpa
- Coeficiente de Segurança (CS): 2,0
Você irá perceber que a planilha já encontrou os fatores F1 e F2, além da resistência estrutural estimada da estaca (simplesmente a tensão de resistência do concreto informada no fck) para garantir que a estaca não romperá primeiro que o solo.
Dica: sempre preste atenção nas unidades que você está utilizando. Preencher o diâmetro como 0,25m, por exemplo, pode fornecer um resultado incorreto e atrapalhar suas estimativas.
Passo #2) Preenchendo o perfil do solo:
- Coluna “Cota”: indicar a primeira cota considerada na sondagem, “559” no exemplo;
- Coluna “SPT”: indicar os resultados do SPT de metro em metro
Repare que como no último resultado do SPT tivemos 32 golpes para 15cm, utilizei um SPT fictício de 64, como medida aproximada do resultado para 30cm.
Coluna “Solo”: indicar o tipo de solo mais próximo com a descrição da sondagem.
Passo #3) Avaliar os resultados
A planilha calcula automaticamente a capacidade do solo para a estaca escolhida pelos dois métodos apresentados e escolhe o mais conservador (menor resistência) na última coluna.
Perceba que na profundidade de 8m a estaca teria 274 kN de capacidade, o que permitiria utilizar4 estacas para suportar o pilar com 900kN.
É possível fazer uma estaca mais profunda e atingir a carga do pilar? Dificilmente uma estaca escavada conseguirá ultrapassar SPTs altos (acima de 25), talvez até 7m esteja forçando a barra para o equipamento utilizado. É muito importante você conversar com o executor do serviço para encontrar a melhor solução.
Caso você não tenha feito o download, aqui vai novamente o botão com o link:
Esperamos que o artigo e a planilha ajude nos seus projetos.
Também preparamos uma breve apresentação com todo o conteúdo desse artigo, confira:
Até a próxima!